Por Robson Jucá Soares
Dizem que um poeta francês foi uma vez apresentado a um riquíssimo banqueiro. O apatacado personagem perguntou ao poeta:
- Para que serve a poesia ?
E o poeta respondeu-lhe:
- Para o senhor, não serve para nada.
Rubens Borba de Moraes – O Bibliófilo Aprendiz
Colecionador de livros soa um tanto depreciativo na medida em que transmite a ideia de um simples juntar, acumular de coisas, o que definitivamente não é o caso daqueles que amam os livros. Por isso vamos chamar a estes “colecionadores" de livros da forma correta que é bibliófilo.
Imagine alguém passar a vida inteira a procurar livros sem desanimar, sem fraquejar, pelo contrário, fazendo de cada insucesso uma motivação a mais para continuar na busca. Se você conhece alguém assim tenha certeza que está diante de um bibliófilo. Esses “seres estranhos” que habitam as livrarias, os leilões e as lojas antiquárias são, na maioria das vezes, pessoas agradabilíssimas, conversadoras de primeira hora. Alguns são desconfiados e não mostram seu acervo para ninguém, no máximo enumeram com orgulho as preciosidades adquiridas aqui, ali e acolá. Outros tantos se reúnem em confrarias, verdadeiros clubes-fechados-aos-não-iniciados. O que será que os fascina tanto, que os faz viajar o mundo a caça dos livros ? Para compreender este universo é necessário aceitar que o livro é muito mais do que seu conteúdo, ele é um objeto. Um objeto desejado. Vamos a um exemplo: é mais agradável ler Dom Casmurro do nosso Machado de Assis (1839 – 1908) em uma edição moderna com as páginas novinhas, não é ? Para ler sim, mas para colecionar a que vale mesmo é aquela primeira edição de 1899. Imagine ainda se esta primeira edição estiver autografada pelo autor, aí é a glória. Pois é assim que funciona a mente do bibliófilo. O que vale é a primeira, aquele livro que o autor teve nas mãos, aquela edição de poucos exemplares, aquele exemplar que poucos possuem, o manuscrito sobre o qual o autor posou a pena. Maluquice ? Talvez. O fato é que existe uma disputa ferrenha por estes objetos mais que especiais.
Para aqueles que pretendem iniciar nesta “santa maluquice” fica a dica definitiva de Rubens Borba de Moraes: “É preciso escolher com muito critério qual o gênero de livro que se quer colecionar. Nunca um bom colecionador deve ir comprando o que lhe agrada no momento. Se assim fizer, chegará, no fim de alguns anos, a ter uma vasta livraria sobre os assuntos mais diversos, obras dos autores mais variados, edições das mais disparatadas, mas nunca uma coleção digna de um bibliófilo. Terá formado um acervo de biblioteca pública, quando muito”.
Os livros são companheiros de vida e nos trazem suporte, informação e companhia. Não são meros objetos de coleção, são amigos que nos leem enquanto nós os lemos. Parabéns pelo post. Um abração, Ilmara. 🙂