Um nanoconto, por Robson Jucá Soares
Suzana, a menina que veio de longe, andava leve e livre pela calçada. Longe daquilo que ela chamava “pertubações”. Distante de seus pensamentos torpes e desejos insanos e desgraçadamente recorrentes. Ela, jovem, bela e desajustada na vida, na vidinha que levava, que levava até ela o que ela não queria que fosse e que nunca, em tempo algum, jamais, desejou para si.
O calor do sol a confortava, ela sentia cada novo aumento de temperatura externa que se debruçava sobre sua nuca, ombros, rosto, seios, corpo todo, suado, colado em biquíni com estampas florais que lhe traziam um ar de juventude que não se dava conta e por isso não aproveitava. Nunca se aproveitou da pouca idade para iludir os homens fazendo-os crer que ela quisesse algo com eles, com gestos simples como levar o dedinho à boca ou sorrir matreira com ar de safadinha, querendo e não querendo ao mesmo tempo.
Todos os homens e mulheres que tiveram a oportunidade de encontrá-la, de longe ou de perto, a desejaram. Mas Suzana estava ocupada demais consigo e de tentar achar a solução para seus problemas de gente miúda. Escura na vida ela clareava a todos e não sabia disso.
Parou, sentou em uma cadeira e ficou olhando o mar. As ondas batiam e voltavam, as pessoas chegavam e se afastavam, o céu nublava e a luz voltava. Suzana ficou assim, encontrada em seus pensamentos e decidindo sua vida dali para adiante. Ela sabia que tudo iria mudar, estava se preparando para isso. Tinha 16. Suzana estava pronta, agora era com ela, nada nem ninguém iria detê-la. Ela, a menininha que todos diziam ser linda e gostosinha, mudara. Levantou os braços, olhou para o céu, levantou-se, girou ao redor de si e gritou seu grito de libertação, saiu da casca, jogou fora o que fôra e rodou com os braços abertos, aceitando a vida. Seus olhos brilharam...
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