Por Jorge Carrión.
“A livraria é uma crise perpétua , sujeita ao conflito entre a novidade e o acervo, e precisamente por essa razão se situa no centro do debate sobre os cânones culturais .”
A Biblioteca de Alexandria, ao que parece, foi inspirada na biblioteca privada de Aristóteles, provavelmente a primeira da história submetida a um sistema de classificação. O diálogo entre as coleções particulares e as coleções públicas, entre livraria e biblioteca, é, portanto, tão antigo quanto a civilização; mas a balança da história sempre se inclina pela segunda. A livraria é leve; a biblioteca é pesada. A leveza do presente contínuo se opõe ao peso da tradição.
Não há nada mais estranho à ideia de livraria do que a de patrimônio. Enquanto o bibliotecário acumula, entesoura, no máximo empresta temporariamente a mercadoria, o livreiro adquire para se livrar do que adquiriu, compra e vende, põe em circulação. Seu negócio é o trânsito, a passagem.
A biblioteca está sempre um passo atrás: olhando para o passado. A livraria, por sua vez, está ligada à essência do presente, sofre com ele, mas também se entusiasma com seu vício em mudanças. Se a História garante a continuidade da biblioteca, o futuro ameaça constantemente a existência da livraria. A biblioteca é sólida, monumental, está ligada ao poder, aos governos municipais, aos Estados e seus exércitos. A livraria, por outro lado, é líquida, temporária, dura o espaço de sua capacidade de manter com mudanças mínimas uma ideia no tempo. A biblioteca é estabilidade. A livraria distribui, a biblioteca conserva.
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